Você sabe a diferença entre Dogging ou Cruising?
O sexólogo Caio Graneiro explica o que caracteriza o cruising após a repercussão do “Surubão do Arpoador”
O “Surubão do Arpoador” continua dando o que falar e despertando a curiosidade de gente que nunca tinha ouvido determinados termos ligado à sexualidade humana, como é o caso do dogging – prática sexual ao ar livre que envolve casais e pessoas desconhecidas.
No entanto, o cruising também é uma prática que se caracteriza pelo ato sexual ao ar livre, mas, neste caso, com uma pessoa completamente desconhecida, ligada ao sexo masculino (ou à comunidade gay) e, diferentemente do dogging, não é muito comum a organização de comunidades de praticantes.
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“De modo geral, é uma experiência muito forte e comum para o homem gay, porque há muito tempo, a maior parte deles estava no armário. E além disso, muitos tinham mulheres, família e não tinham muito a possibilidade de, por exemplo, entrar num bar gay”, explica o psicólogo e sexólogo Caio Graneiro.
Graneiro destaca ainda um componente histórico, quando afirma que a prática do cruising foi uma “solução” encontrada por homens que queriam experimentar sua sexualidade sem serem reprimidos moralmente.
Ele pontua que há cerca de 30 ou 40 anos, espaços gays eram estigmatizados, incluindo os bairros onde se concentravam esses estabelecimentos.
“Um pai de família não poderia entrar num bar desses. E aí, quando esse cara vai a um parque, vê um cara, que olha de volta, os dois se embrenham no meio do mato para fazer alguma prática sexual. Aquilo teria um grau maior de despersonalização, pois você não sabe quem é a pessoa e a pessoa não sabe quem é você”, contextualiza.
Cruising não costuma envolver conversa
A experiência citada como exemplo aponta para um segundo elemento: além do escondido, existe a questão da despersonificação, ou seja, a falta de identidade.
“No cruising, é muito comum não precisar se envolver no processo de conversa. Não é como ir a um bar e perguntar o nome, o que a pessoa faz”, ressalta o sexólogo, destacando:
“Você olha para aquela pessoa e ela olha de volta. Vocês trocam o olhar. Às vezes se provocam de alguma maneira, e aí, sem muita conversa, a coisa pode evoluir para uma experiência sexual”, diz.
No entanto, embora hoje em dia haja uma maior abertura, o sexólogo lembra que é um engano achar que homens casados não praticam sexo homossexual.
Fetiches no cruising
O anonimato é um dos pontos essenciais no cruising. Enquanto a experiência do dogging é praticar o sexo sem se importar de ser visto, e o voyeurismo é um dos fetiches marcantes desse jogo, a prática mais comum entre os homens gays costuma ser bem mais discreta. Mas ainda assim existe fetiche.
“O cruising ainda mantém a ideia inicial de preservar a identidade de homens casados, ou em situação que não querem se mostrar, ou que têm vergonha da sua sexualidade. Esses espaços, com muito anonimato, são importantes. Mas também tem o lugar do fetiche do cara gay, que vive a sua sexualidade plena, por alguém que não é assumido sexualmente”, diz o especialista.
Segundo ele, esse homem gay pode ter fetiche pelo homem que “performa a heterossexualidade”, ou pela sensação do perigo, de ser pego no flagra, e pela adrenalina.
“E tem o lado do voyeurismo também”, acrescenta.
Regras a serem cumpridas pelos praticantes
As regras para quem é adepto do cruising envolve o respeito ao anonimato. Portanto, espera-se que ninguém pegue um celular no meio de uma sessão, explica Caio Graneiro.
“Se você vai ao lugar onde as pessoas estão praticando cruising, espera-se que ninguém ligue uma luz de celular, e também não é muito esperado perguntar o nome ou qualquer outro tipo de troca mais clara de identidade”, ressalta.
Também não é comum a formação de comunidades de praticantes do cruising, exatamente pela questão do anonimato. O que não impede a formação de grupos que se organizam para informação sobre os lugares possíveis, sobre segurança, entre outros interesses que podem ser esclarecidos.
Caio explica que muitas pessoas sentem um prazer sexual elevado com a adrenalina do perigo envolvendo o cruising, especialmente aquelas que sentem que conseguem fazer isso num contexto fora da lei – vale lembrar que sexo em lugares públicos é crime, considerado ato obsceno, com pena passível de detenção de até um ano ou multa.
“É como uma sensação de resgate de poder ou de autonomia, de quebrar as regras da sociedade. Então, vou fazer o que é proibido, como uma afirmação da própria liberdade ou de própria autonomia”, finaliza o sexólogo explicando as sensações motivadoras da prática.
O que é dogging?
O dogging é a prática de fazer sexo em público e que mistura voyeurismo e exibicionismo, sem definição do gêneros dos participantes, conforme explica a psicóloga e sexóloga Laís Melquíades.
“O dogging é, basicamente, quando pessoas se encontram para momentos íntimos ou apenas para observar. É como um ‘evento ao ar livre’, com cenas quentes e exclusivas”, explica.
Os encontros de dogging costumam acontecer à noite ou em locais discretos. Segundo a sexóloga, alguns podem ser combinados previamente em fóruns ou redes sociais, mas também acontecem de forma espontânea.
“A ideia é juntar quem gosta de se exibir e quem curte assistir, criando uma interação que mistura adrenalina com liberdade”, diz.
Entenda quais as regras do dogging
Camila Voluptas, psicanalista e fundadora da Voluptas Society – sociedade liberal para casais e pessoas solteiras -, afirma que as regras não são explicitamente estabelecidas, mas elas existem.
“Em um ponto de dogging, por exemplo, não é qualquer homem solteiro que consegue participar, pois os próprios ‘gaviões’, como são chamados os que controlam o comportamento dos demais, mantêm a distância para respeitar o espaço do outro”, explica.
Assim como no Rio de Janeiro vários locais de dogging acabaram vindo a público, em São Paulo também existem diversos pontos.
“Entre eles, um parque de São Paulo, uma praça famosa, porém eles pedem para nunca divulgarem publicamente exatamente o local, justamente para preservar a prática”, diz.
No mundo do dogging, liberdade e diversão são as palavras-chave, mas a sexóloga acrescenta que isso não significa que vale tudo.
“Geralmente, são estipuladas algumas ‘regras’ básicas para garantir que todo mundo curta a experiência sem desconfortos”, explica.
Ela cita que o consentimento precisa ser lei, ou seja, nada acontece sem que todos estejam de acordo. E, quem não foi convidado, fica na plateia, assistindo a interação de outras pessoas.
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